17 situações que todo amante de historia ja presenciou na Internet


E então, um belo dia voce conheceu a internet e ficou maravilhado com a quantidade de coisas legais sobre historia que conseguia conhecer através dela, até...

1- Enfrentar o trade-off dormir entre acordar cedo no outro dia ou varar a noite dando mais aquela lida naquele site/blog novo sobre aquele assunto que voce adora;
E no outro dia acordar com olheiras assim.


2- Identificar contextos históricos em séries/filmes/novelas e surgir com 203987 explicações e deduções, mesmo quando seu ouvinte não esta muito interessado;
 
Eu juro que a Batalha dos Bastardos foi um remake da Batalha de Bosworth!


3- Se revoltar ao assistir uma série/filme sobre algum personagem histórico e ver que não absolutamente nada a ver com a realidade (mesmo que no fundo voce saiba toda a parada da licença poética e as vantagens de se existirem os romances históricos);

Ainda tenho pesadelos com o piloto de Reign!


4- E consequentemente tentar doutrinar os fóruns de fãs a pararem de tratar as ações de tal personagem como se tivessem sido reais porque isso é uma ofensa ao ser que voce sabe que realmente existiu;


Vai ter comentário de textão sim e se reclamar vai ter ainda mais!

5- E levar patadas, ser bloqueado e chamado de chato por isso.   
 

6- A essa altura voce já se tornou um ser eficiente na desconstrução histórica, conseguindo farejar um senso comum há postagens de distancia;


7- E se revolta novamente com as pessoas que se recusam a abandonar determinadas construções ou propagandas, as vezes até mesmo reagindo de forma completamente mal educada contigo; 



8- E prometendo a si mesmo que nunca mais lerá nenhum comentário de postagem alguma; 


9 - Mas lá esta voce novamente no outro dia, pronto pra próxima batalha;


10- As vezes voce ate mesmo se identifica com o posicionamento de alguma outra pessoa da sessão comentários, podendo rolar aquela solicitação e quem sabe até mesmo o inicio de uma amizade histórica (alianças entre casas sao muitas vezes cruciais, nao é mesmo?)



10- Afinal, vale a pena a sensação de ver um artigo novinho em folha sobre aquela personalidade que voce tanto adora, mas que é sempre posta de lado...


11- Cria ships e defende casais como uma pré adolescente; 
 EU SEI QUE ESTE E UM CASAL HISTORICAMENTE IMPOSSÍVEL MAS NO MEU CORAÇÃO ELE E REAL


12- E sentir aquela raivinha quando se apaixona por algum assunto que tenha pouquíssimos artigos em português;
E a preguiça de traduzir tudo na marra se torna tão grande que lá vamos nós nos stressar com nosso amigo tradutor


13- Ou encontra o site perfeito em qualquer outro idioma; 
 E nem por isso voce irá deixar de se viciar nele

14- Voce se familiariza com as personalidades e passa a falar delas de maneira intima, como se fosse algum amigo ou familiar; 

Castanha do Pará? Ai meu Deus, D. Pedro II adorava isso!

15 - E pode chegar até mesmo ao extremo de criar teorias loucas sobre outras vidas, afinal, só isso parece explicar a adoração que voce tem ao estuda-los;



16- As vezes também surge aquela vontade de voltar um pouquinho no tempo, só para conhece-los;


17 - Mas no fundo voce sabe que sua vida é bem melhor e bem mais tranquila no presente, e nao trocaria ela por de personalidade nenhuma


Fontes dos GIFS: tumblr.

Rosamund Clifford: a Rosa do rei Henrique II




A vida do rei Henrique II é uma das mais fascinantes de todos os reis Plantageneta, principalmente devido as mulheres a quem ele fora associado. Sabemos que uma dessas, Eleanor de Aquitânia, era uma figura enérgica e altamente política nas maquinações das cortes da França e na Inglaterra. A outra fora uma mulher que Henrique fizera o seu melhor para manter em segredo: "a justa" Rosamund Clifford.

Quem fora Rosamund? 
Seu pai era Walter Clifford, um nobre que ocupava uma casa fortificada no Vale Wye, onde as águas do rio Wye desembocava do País de Gales para a Inglaterra. Ele adotara o nome Clifford depois de tomar a propriedade do Castelo de Clifford. Ela nascera antes de 1150, exatamente quando, não se sabe, mas fora uma das pelo menos seis crianças. Diz-se que quando jovem fora enviada para Godstow, perto de Oxford, para ser ensinada pelas freiras, mas estudos modernos sugerem que sua única ligação com o local fora o seu sepultamento, uma vez que sua mãe possuía um jazigo lá.

Quando ela conhecera Henrique?
Fair Rosamund
John William Waterhouse, 1916
Public Domain
É possível que os dois tivessem se encontrado ainda jovens e que seu caso de amor começara antes de Henry tornar-se envolvido na política da França e da Inglaterra?Se a diferença de idade era de fato dez anos, parece improvável que os dois teriam se conhecido, visto que o rei nascera em 1133, sendo enviado de Anjou para Bristol em 1142. Isto pode até o colocar convenientemente perto do Castelo de Clifford nos pântanos galeses, mas Rosamund provavelmente nem havia sequer nascido. Henrique voltou para a Inglaterra em 1147 mas, novamente, a garota deveria ser uma criança pequena a aquela altura. Embora não haja uma data precisa de quando ela nasceu, foi dito em sua morte, em 1176,  não ter mais de trinta anos de idade, o que sugere uma data de nascimento de 1148 +/- 2 anos.Henrique nasceu em Le Mans, na França, tendo uma juventude bastante tumultuada. Era dito que ele possuia uma energia ilimitada, Herbert de Bosham até mesmo comparou-o com uma carruagem humana, metaforizando o habito de carregar tudo em suas costas. Era um homem rápido para explorar qualquer oportunidade dada e não perdeu tempo em 1152, ao tomar a mão de Eleanor de Aquitânia, uma vez que ela se divorciara do primeiro marido. Ele tinha apenas 19 anos de idade, sendo Eleanor onze anos mais velha que ele.
Assim, aceitando que é improvável que Henrique e Rosamund tenham se conhecido antes dele se casar com Eleanor, quando é que os dois amantes se cruzaram? Alguns relatos dizem que os dois se conheceram quando a rainha estava grávida do último filho do rei, João, em 1166. Henrique tinha em torno de trinta e três anos de idade e Rosamund vinte e três, e eles provavelmente teriam se conhecido próximo de Woodstock, durante confinamento de Eleanor, mas ainda há duvidas sobre a exata localização do encontro.
As ruínas da "casa" de Rosamund, no Blenheim's Great Park.

O relacionamento com o Rei
Acredita-se que Rosamund estava de passagem pelo palácio de Woodstock, quando Eleanor deu à luz a João, e que Henrique se apaixonou por ela durante a gravidez da rainha. Ainda existem aqueles que especulam que fora até mesmo uma das damas da corte, uma vez que seu nascimento não extremamente inferior.Henrique tomara durante muito tempo um cuidado imenso para manter Rosamund em segredo, e uma vez que até então havia mostrado pouca consideração por suas outras amantes, podemos supor que a jovem galesa significara muito mais que as outras para ele. A Rainha Eleanor, apos ter dado ao rei oito filhos, decidiu retornar a França, deixando o campo aberto para o caso entre Rosamund e Henrique florescer.Com certeza a ausência da Rainha havia facilitado o relacionamento de ambos. Dado o quanto Henrique viajava é extremamente provável que a jovem fazia parte de sua comitiva e talvez, neste ponto, o caso pode ter se tornado óbvio para todos.O rei criara uma casa para Rosamund na residência real em Woodstock. Não um palácio, mas uma casa para encontros. Anteriormente, é dito que já havia construído jardins para Eleanor ao redor da casa, completando a obra com um pavilhão e um labirinto. O labirinto tornou-se parte dos mitos e lendas que cercam Rosamund, sendo que provavelmente sequer existira, sendo fruto da mitologia ao confundido com o denso jardim. A lenda ainda diz que a propria Eleanor, numa crise de ciúmes, havia procurado a amante no labirinto, guiando-se através de um fio de seda e forçando-a a escolher os meios de sua própria morte: um punhal ou uma taça de veneno. Diz-se ainda que Rosamund escolheu veneno, mas a cena não passa de um mito. A única veracidade da história é provavelmente o fio de seda, mas que surge numa ocasião completamente diferente: o rei, após a sua morte, quis ter alguma ligação com o local de sepultamento da esposa, transferindo o padroado do convento de outro nobre para ele mesmo. Durante a cerimônia de transferência fora utilizado um pano de seda, mais tarde adaptado para um "fio de seda" nos relatos. Taí a relação de Rosamund com o tecido. 

Os filhos do casal 
Maude Fealy como Rosamund na peça Becket de 1905.
Não existe nenhuma evidencia ou relato de que eles tiveram filhos, abrindo possibilidades para o fato de ela nunca ter engravidado, ou ter perdido todas as supostas crianças, além da existencia de natimortos. Entretanto, não há nenhuma evidencia que um filho deles possa ter existido. Posteriormente, foi criada uma teoria em que dizia que Rosa era a mãe de Geoffrey Plantageneta, bastardo de Henrique que se tornara Arcebispo de York, ou de William Longspee, Conde de Salisbury, mas é impossivel ela ter gerado o primeiro, uma vez que eles apresentam pouca diferença de idade, e a maternidade de Salisbury era conhecidamente atribuída a dama Ida de Tosny.

Morte e sepultamento 
Rosamund morreu antes de seu trigésimo aniversário, em 1176. Sua morte é, como já comentamos acima, normalmente atribuída a Eleanor, entretanto, é completamente errônea. A primeira sugestão surge apenas no século 14, anos após sua morte e sugeria que ela havia simplesmente apenas esfaqueado Rosemund. A história aumentara na Renascença, ao incluírem a escolha entre veneno e a faca. A propaganda Vitoriana também é responsável pelo "renascimento" e reforço do mito, com um fundo machista e moralista, para "educar" as esposas, uma vez que coloca como vítima a submissa e injustiçada amante, em contraste a Eleanor, a monstruosa e assassina terrível, a esposa ciumenta. O recado dos homens para suas esposas então era: não sejam como Eleanor. 

Ao contrário do que dizem muitas historias sobre ela, não há evidencias que o rei tenha pago pelo seu sepultamento, uma vez que sua família já possuía um jazigo no convento de Godstow. Ele apenas se incluíra no patronato, como lemos anteriormente, embora isso tenha visto por muitos também como um agradecimento, uma vez que seu túmulo fora reposicionado em frente do grande altar, um local de honra. Infelizmente, 15 anos depois, o bispo Hugo de Lincoln fizera as freiras removerem o túmulo para fora da igreja, uma vez que era inapropriado uma "prostituta" para ser enterrada lá.
Seu túmulo então fora movido para a capela das freiras, onde fora visitado até destruído durante a dissolução dos Monastérios, por Henrique VIII. 

Fair Rosamund and Queen Eleanor by Frank Cadogan Cowper, 1920.

O legado de Rosamund Cliffort
Era dito que as cantigas e inscrições inglesas do latim, que fazem referencia ao latim do nome "Rosa Mundi" (rosa do mundo) ou "Rosa Mundi" (rosa pura), foram escritas para ela, entretanto, foram epítetos criados em homenagem a Virgem Maria. É provável que Rosamund Clifford fora nomeada (de forma criativa, uma vez que o nome não era tão popular assim na época) em honra da Virgem, e que as inscrições vieram da mesma fonte de cultura geral. 
Entretanto, é provável que, por outro lado, a flor galesa "Rosa Mundi" tenha sido batizada em sua homenagem, uma vez que sua lenda era extremamente popular na Idade Média. Talvez assim como os epítetos, tenham sido em homenagem da Virgem, mas uma vez que seu legado já era extremamente reconhecido na época, é justa tal atribuição. 

Sua história tornou-se uma lenda que sobrevivera a séculos, mesmo com escassas informações a seu respeito, o que atrai e aguça ainda mais o imaginário das pessoas.  Ela é lembrada na poesia e em escritos, sua suposta beleza inspiraram muitos pintores. Ela compartilha um lugar de visibilidade na história, como talvez a primeira impactante de muitas outras famosas amantes reais, tais como Alice Perrers ou Jane Shore. Elas permanecem enigmas, cercadas por mitos e lendas ao longo que suas histórias ainda são constantemente relatadas. 
  
Bibliografia: 
http://www.intriguing-history.com/fair-rosamund/
http://blog.oup.com/2014/09/eight-myths-fair-rosamund/
http://englishhistoryauthors.blogspot.com.br/2014/10/fair-rosamund-mistress-of-henry-ii.html



 

Precisamos falar sobre a esteriotipação das moças na história.




A loba, a bruxa, a esposa submissa e a mãe manipuladora. Qualquer um que demonstre um interesse um pouco maior sobre o período da Guerra das Rosas se depara com esses estereótipos. Não apenas nesse período em especial: em toda história, frases prontas e personalidades que mais se parecem com personagens de Game of Thrones do que pessoas de verdade, saltam a nossos olhos. E discursos também. Vasculhando um grupo de história inglesa um dia desses li ideias absurdas sobre mulheres que tiveram um papel importantíssimo na constituição de um Estado menos machista, recitadas por homens que se limitam a reproduzir o discursos como o de que a primeira rainha inglesa, Maria I, fora uma péssima tirana, que Elizabeth deveria ter se casado para gerar herdeiros e não deixar a coroa inglesa cair na mãos do homossexual (o gênero sempre sendo enfatizado por esses rapazes, como se pejorativo) Jaime I. Vale dizer que sua mãe, Maria dos Escoceses era uma descabeçada que perdeu três coroas na mão da mulher cujo o filme Elizabeth e a Era de Ouro retrata como uma "mal amada": afinal, se sua prima era depravada e tola por ter escolhido os seus maridos, Elizabeth era uma solteirona chata, que implicava com os sentimentos amorosos das damas de companhia. Dá pra entender? 

Como se não bastasse a eterna e desnecessária romantização das esposas de Henrique VIII, "será que Ana Bolena realmente amou Henrique?" E se não amou? E se ela apenas o utilizou para ascender socialmente, não era isso que os homens faziam ao selecionarem as "melhores" esposas possíveis? Não tem problema nenhum. Isso não faz dela uma personalidade ruim. 

Precisamos parar. 

Uma coisa é observar um período com os olhos da época, outra é julgar de acordo com a visão retrógrada de anos atrás. Estude, observe como um cidadão de seja lá o período o qual analisa, mas não as julgue como. 

É preciso analisar a história mais como o desenrolar vida de pessoas de verdade (que o foram) e menos como uma série de TV. É preciso ver Margaret de Anjou menos como uma loba retrógrada e sem escrúpulos e mais como uma mãe e mulher que ousou a orquestrar batalhas contra homens poderosíssimos, Elizabeth Woodville menos como uma bruxa manipuladora e mais como uma mulher que conseguiu ascender sua família e ser levada em consideração num mundo onde as esposas não tinham voz frente aos maridos,  Katherine Howard que ousou fazer algo que os homens faziam a todo momento (e até hoje nunca vi serem julgados por isso): amar. Ou que seja apenas manter relações sexuais com um homem de sua idade, fugindo de seu relacionamento abusivo, independente dos seus objetivos ou sentimentos, isso não lhe dá direito de julga-la, afinal, você nem a conheceu. 

Recado principalmente pros rapazes: chega. De estereotipar e disseminar ódio por personalidades femininas que ousaram ter tanto poder quanto os homens. Se você é um, preste bem atenção: está proibido de sair falando de Maria Sanguinária ou Loba da França. 

Deixa as nossas minas.





Seria a doença misteriosa de Henrique VI a esquizofrenia?



Henrique VI, rei da Inglaterra, aos 19 anos fundou Eton e Kings College, em Cambridge. Aos 31 ele sofrera de uma doença mental súbita e dramática que o fazia ficar calado e sem dar respostas. Antes disso as pessoas os descreviam como sendo um rapaz paranoico e indeciso. Com o tempo ele foi ficando cada vez mais apático, sofrendo deterioração de sua capacidade, interesse e auto-cuidado, tendo alucinações e delírios religiosos. Esta doença roubou de Henrique sua personalidade, sua coroa, sua esposa, seu filho único, por fim, sua vida. Ela levou a três décadas de luta brutal pela coroa (a "Guerra das Rosas"), que resultou em uma nova dinastia com um impacto dramático sobre o país: os Tudors, Henry VIII e Elizabeth I e seus descendentes. Mas qual seria tamanha doença incapaz de ter sido diagnosticada no século XV? Bem, os cientistas e historiadores modernos a atribuem a um distúrbio psicológico: a esquizofrenia. 

A saúde mental no século XV:
De acordo com Jonathan Andrews (A História de Bethlem, 1997), as reações contemporâneas para os doentes mentais incluíam a crença de que "a loucura [era] um castigo infligido por Deus para o erro de alguém". Considerando que Henrique VI fora um apoiador da paz e evidentemente religioso, este parece ser um julgamento bastante injusto. Mas não havia outra explicação, logo, seus contemporâneos sugeriam que Deus punia o rei pelos pecados de seu reino. Outra teoria era que Henrique estava sendo punido pelos pecados também de sua família e até mesmo de Charles VI da França (seu avo).
Como a doença não havia sido descoberta, ele não fora tratado. Somos informados de que, em 1455, Henrique tivera uma 'recuperada', mas não sabemos como ou por quê.


Os preconceitos em relação a doença ainda nos dias de hoje:
Não podemos saber quantas pessoas sofriam de esquizofrenia no século 15 na Inglaterra, embora uma análise de dados de pessoas trancadas em lugares como Bethlem, diagnosticados com "possessão demoníaca" e queimados na fogueira como bruxas e bruxos pode dar alguma indicação. As atuais estatísticas indicam que cerca de 5 em cada 1000 pessoas no Reino Unido sofrem com isso hoje em dia.A condição é ainda lamentavelmente mal interpretada; podemos zombar da falta de conhecimento de doenças relacionadas a saúde mental no final da Idade Média, mas uma pesquisa feita no Reino Unido mostrou que demasiadas pessoas ainda pensam que esquizofrenia = violência. O Royal College of Psychiatrists diz que os portadores são mais propensos a se machucar do que outras pessoas, e as taxas de suicídio entre eles são desproporcionalmente altas. Algumas pesquisas em 2007 também encontraram pacientes com esquizofrenia que acreditavam que sua doença era causada por um Deus irado; um acreditava que sua "doença [foi] um castigo enviado por Deus para [seus] pecados" e outro acreditava que era "a obra do Diabo". Algumas pessoas resistem a medicação porque se sentem desconfortáveis com suas crenças religiosas.
Carlos VI: o louco, avo de Henrique

As ações do rei que levam ao diagnóstico: 
Henrique se recuperara durante um período de tempo, mas aí já estava armada a Guerra das Rosas - um período de combates entre apoiantes e simpatizantes de Ricardo, duque de York, que havia sido regente durante a doença de Henrique e queria manter seu poder de rei.O monarca passara o resto de seu reinado sendo não-tratado, mentalmente fraco e incapaz de defender o trono; em última análise, ele foi deposto pelo filho de Ricardo, que se tornou Eduardo IV. A história oficial é que Henrique morrera de "melancolia" enquanto estava preso na Torre de Londres, em maio de 1471, e sendo uma causa levemente suspeita, é igualmente provável que Eduardo o tenha assassinado.

Mind, organização de saúde mental do Reino Unido, sugere que eventos estressantes da vida e genética podem contribuir para a esquizofrenia. De acordo com a UK Rethink, "O risco para a doença é de aproximadamente 1%. Porém, tendo um progenitor afetado pelo gene, este aumenta esta a 13%. Quando ambos os pais biológicos são afetados, o risco sobe para 46%. "


Perder uma grande parte da França e lidar com uma rebelião interna, pode ter sido muito bem o fator estressante que desencadeou a doença. Para completar, tanto seu avo quanto sua bisavó sofriam de delírios semelhantes (Carlos IV, rei da França acreditava que era feito de vidro e poderia se quebrar, enquanto sua bisa, Joanne, possuía "visões"). Logo, de acordo com os fatores biológicos e ambientais, a esquizofrenia pode ser sim apontada como principal causa dos distúrbios do rei - entretanto, deve-se lembrar que passados mais de 500 anos e sem relatos extraordinários que possam facilitar os estudos de um médico nos dias de hoje, nada pode ser de fato concluído. Mas enquanto isso, esta continua sendo a mais indicada como a enfermidade que mudou os rumos da Inglaterra.


Bibliografia:
"Did schizophrenia change the course of English history? The mental illness of Henry VI."-
Albert Einstein College of Medicine (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12208181#)
Adaptado majoritariamente de:
"Henry VI – Schizophrenia?"- https://theinspiredmadman.wordpress.com/2013/04/03/henry-vi-schizophrenia/

Outros links de extremo auxilio:
https://www.timeshighereducation.com/news/findings-henry-vi-parts-one-and-two/172360.article
http://forum1.aimoo.com/allmytudors/The-Plantagenets/Henry-VI-Crazy-or-Just-Sick-1-2027407.html




 

 

Leonor de Castela: a esposa do Rei fiel




Escrever sobre Leonor de Castela é um desafio tremendo, por haver informaçoes escassas e tanta confusão em sua historiografia. Em Agosto do ano passado eu tive a oportunidade comprar uma biografia renomada dela em Madrid, mas uma série de eventos (e aquela velha historia de ‘amanha eu passo’ ) resultaram que eu nao consegui leva-lo para casa, para minha grande frustração. Podem ter certeza que o remorso me consumia enquanto escrevia cada linha desse artigo. Mas vamos lá.

Leonor foi uma esposa brilhante. Por ser uma rainha inglesa nascida na Peninsula Iberica (coisa não tão comum, foram apenas quatro: ela, Berengália de Navarra, Catarina de Aragão e Catarina de Bragança) e por ter vivido algo mais proximo de um ‘relacionamento amoroso’ do que muitas de suas precessoras e sucessoras. Leonor teve 16 (ou 14, os historiadores se bagunçam muito quando o assunto é esse. Filhas como Blanche e Alice surgiram apenas depois de 1600 e não há muito certificação de sua existencia) filhos e não desgrudava do marido, marcando presença até mesmo nas Cruzadas. Esposa e rainha dedicada.

Nascimento e infancia:
Leonor nasceu em novembro de 1241, em Burgos. Seu pai era Fernando III de Castela e sua mãe Jeanne de Demmartin, a segunda esposa de seu pai, que calhava por ser a herdeira do condado de Pontieu. Não existe praticamente mais nenhuma evidencia sobre a sua infancia. Sabe-se apenas do seu amor pela literatura por manuscritos escritos depois que já atingira a vida adulta, que falam que ela era educada e literada.
Os arranjos de seu casamento com o Principe Eduardo foram feitos devido uma disputa pela Gasconha. O rei Henrique III tentava mante-la a todo custo (a Inglaterra ja tinha perdido parte do dote de terras trazido com Eleanor da Aquitania) e o pai de Leonor decidiu reinvidica-la baseado em direitos dos ancestrais. Para promover a paz ficou então decidido que Leonor se casaria com Eduardo, que seria o herdeiro da Gasconha e feito cavalheiro de Castela pelo rei.

Os conturbados anos como Princesa de Gales:
Eduardo tinha 14 e Leonor 13, ambos casados no monasterio de Las Huelgas, em Burgos, no dia 1 de Novembro de 1254. O primeiro ano se passou na Gasconha, onde Eduardo aprendia a governar. Dizem que o laço que os unia surgiu através do fato de terem sido “criados”para a vida real juntos, ainda muito novos. De qualquer forma, existem boatos que a princesa, com 14 anos, tivera um natimorto nesse primeiro ano. Talvez por ter sido um parto dificil (14 anos ainda é uma criança né gente, vamos combinar) os proximos herdeiros só vieram um tempo depois. Eles voltaram para a Inglaterra mas poucos anos depois esiveram de volta no continente atraindo soltados de Pontieu para defender a coroa inglesa, ameaçada por alguns nobres ingleses em rebelião. Após seu marido ser capiturado no campo de batalha, Eleanor ficou em custódia na Abadia de Westminster, onde carecia de dinheiro e provisões.
Eduardo fugiu da prisão e tomou o poder na batalha de Eversham em 1265. Eleanor ja estava em alta no conceito do marido, pois daria a luz ao pequeno João em 1266. Outro bebe, Henrique, nasceu em 1268 e uma menina, Eleanor, surgira em 1269. 

As Cruzadas:
Em 1270, Eduardo resolveu levar sua esposa consigo nas Cruzadas. Durante sua passagem pela Palestina, Leonor deu a luz a uma filha chamada Joan. Seu marido fora atacado por uma flecha envenada e há uma historia em que a princesa chupou todo o veneno, procurando salvar sua vida. O relato é logicamente um mito, mas serve para mostrar quanta devoção o casal possuia mutuamente. Alfonso nascera também em terras estrangeiras. Entretanto tudo mudara na volta da Guerra. O rei Henrique III havia morrido e seu marido agora era o rei da Inglaterra.
Gravura de suas inumeras viagens.


O relacionamento com o Rei (sendo Rainha):
Durante sua existencia, o casamento não fora visto com bons olhos, em partes por ela ser estrangeira e ter trazido tropas  do exterior para lutar com ingleses há anos atras. Entretanto, Eduardo e Leonor parece terem sido dedicados e fiéis uns aos outros: ele é conhecido por ser um dos raros reis que nao teve casos com amantes ou filhos ilegitimos. Ela viajava com ele o tempo todo, inclusive nos tempos de guerra. Tiveram inclusive um filho no campo de batalha: Eduardo de Caernafon, mais tarde conhecido como Eduardo II, o homem de inumeros amantes e que perdeu a coroa para o exercito de sua esposa ressentida. 
Nesse momento da vida, Leonor já havia sofrido grandes perdas. Todos seus outros filhos meninos não haviam passado da adolescência e ela assistira a suas mortes. Infelizmente não há relatos que indiquem seu emocional em relação a isso, mas deduzimos que estivesse extremamente abalado. O pequeno Eduardo agora era a raiz de suas esperanças já que a rainha já beirava os 40 anos. 
 A essa altura, ela já era extremamente criticada por ser uma grande dona de terras. Sua renda anual era altíssima e os nobres não entendiam o porque do Rei doa-las a mulher que já era sua esposa e já possuia muitas outras. Deduziam que ele as doava como um afazer, para que ela não se intrometesse nas questões políticas. Diferente de rainhas como Elizabeth Woodville ou Margaret de Anjou, a influencia política sob Eduardo parecia ser praticamente nula. Seu único afazer era gerenciar a educação das crianças e administrar suas terras. De qualquer forma, a nobreza se sentia ameaçada e há quem afirme que ela não fora tão popular como se deduz que era nos dias de hoje. 

Seus gostos e personalidade: 
Com o marido, na Catedral de Lincoln.
Leonor era inteligente, gostava de literatura e artes. Seu amor por inscrições era tanto que ela criou seu próprio ateliê, ao Norte. Fora patrona de diversas universidades e fazia muitas caridades. Amava
caçar e possuía muitos cavalos e cachorros, além de ter trazido sua própria tapeçaria de Castela. Os jardins ingleses ganharam forma e decoração com agua (como fontes) graça a sua influencia ibérica.

Ultimos anos:
Ela era uma mulher saudável, entretanto, sofrera muito nos últimos três anos de sua vida. Há quem diga que contraíra malária, outros tuberculose, o fato é era cada vez mais complicado para uma mulher debilitada ficar viajando, mas ela continuou o fazendo. Ela sentia que seu fim estava próximo e tratou de deixar tudo conforme gostaria: arrumou o casamento das filhas Joan e Margaret e iniciou
as negociações do enlace de seu filho Eduardo com Margarida da Escócia (herdeira reinante). Além disso, começou a construir um túmulo para seus restos mortais. No verão de 1920 ela iniciou um tour por suas propriedades mas foi obrigada a interromper, nesse meio tempo, chamou seu filhos para que se despedissem. 
No dia 28 de Novembro de 1290, Leonor de Castela morreu, com seu marido ao lado. O homem que passara trinta e seis anos juntos, agora se via sozinho pela primeira vez. Mais abalado do que nunca. 
O retorno para casa durou 17 dias e toda noite que eles paravam, Henrique mandava construir uma estátua da rainha com uma cruz. Os 17 monumentos conhecidos como "as cruzes de Leonor" ainda existem em alguns locais da Inglaterra. Símbolos que representam que sentimentos como o amor podem durar para sempre.

Abaixo, algumas das "Cruzes de Leonor" que existem até os dias de hoje:



Bibliografia:
http://abitofhistory.net/html/descendants/eleanor_of_castile.htm 

O Natal na corte do primeiro Rei Plantageneta


O Natal está chegando, e com ele, os presentes, músicas e festividades. Se você é daqueles que já detesta passar a ceia com a família, pense que poderia ser pior: imagine se fosse Henrique II e tivesse que celebrar com seus filhos que mais tarde se declararam abertamente em Guerra Civil contra você, seu Arcebispo/ex-melhor-amigo que estava sempre em pé de guerra, ou sua adorada esposa anos mais velha, que fizera questão de incentivar os filhos a tirarem a sua coroa. Sim, nessa fantástica data comemorativa, vamos mergulhar nos natais do século XII dos primogênitos da dinastia Plantageneta.

Arvores de Natal, decoração e...
Na corte do seculo XII, já havia no Salão Principal a tradicional decoração com pinheiros. Também poderia haver a presença de vegetais culturalmente Nórdicos e Celtas como hera, visco e azevinho, o segundo mais tarde banido pela Igreja uma vez que suas origens eram supostamente pagãs. O principal era a cabeça de Javali, que ficava em cima da mesa da alta nobreza, oferecida pelo chefe da mesa, ou seja, o rei.

Presentes...
Não haviam presentes. Estes só eram dados no dia do Ano Novo.

Diversão, comemoração e...
Deveres religiosos. Afinal, era o nascimento de Jesus Cristo a ser celebrado. Missas especiais e festivais eram obrigatórios. Mas além de tudo isso, também era chance de socializar. Enquanto a corte de Henrique II e Eleanor era mais elegante e com protocolo, a de seu filho, o Jovem Rei, era um tanto mais... descontraída. No seu primeiro Natal como chefe da mesa, por exemplo, ele decidira excluir todos os Williams da lista de convidados, simplesmente porque achava divertido o fato de este ser um nome muito popular. O resultado fora mais de 100 nobres excluídos da ceia, e seu pai descontente com a irresponsabilidade do filho. No ano seguinte, fora acusado pelos cronistas por ter convidado uma espécie de Bobo da Corte, que arrotava e soltava pum a mesa, além de outros 'mercenários, prostitutas e dançarinos'. Independente da veracidade do relato, é inegável que as ceias do Jovem Rei deveriam ser um tanto quanto animadas. 

Os Natais polêmicos e eternizados do primeiro rei Plantageneta:

O Natal de 1170 (e a ordem de assassinato de Thomas Becket).
Thomas Becket era na ocasião o Arcebispo de Canterbury, indicado pelo rei. Entretanto a relação entre eles esfriara com a dedicação do ex-chanceler ao cargo, e fora durante a noite de Natal de Bures, na França, que Henrique recebera a noticia que Thomas se recusava a quebrar a excomungação de alguns dos seus apoiadores. O resultado fora que o mal temperamento do rei o levou a soltar frases fortes e mal-entendidas (ou não), por seus cavalheiros, que interpretaram como um mandado para matar o antes tão fiel companheiro de seu monarca. Thomas Becket fora assasinado pelos mesmos e três anos mais tarde canonizado como São Thomas. Para a dor na consciência de Henrique. 

O Natal de 1171 (como um excomungado na Irlanda).
Após a polemica ordem papal, Henrique decidiu deixar Londres e viajar rumo a Irlanda, para lidar com alguns vassalos um tanto quanto rebeldes. Durante as comemorações de Natal os islandeses se escandalizaram com a quantidade de comida consumida pela sua corte e alguns pratos como cisnes e pavões, considerados nojentos para os vizinhos da Inglaterra.

O Natal de 1182 (com a família reunida, ou nem tanto).
Esse com certeza é o meu favorito. Apos os primeiros indícios de rebelião, Henrique convocou para a ceia seus filhos também Henrique (o Jovem Rei), Ricardo (Coração de Leão) e Geoffrey, conde da Bretanha. Eleanor, sua esposa, fora banida, estando presa devido influenciar seus filhos contra o pai, em Guerra Civil. Chamaram mais de cem cavaleiros e soldados para preencher o local da rainha.  

Tudo conspirava para um possível fracasso. Pra começar, o camareiro do rei, cuja função era lavar as mãos deste antes de jantar, ficou ofendidíssimo ao ver outro criado praticando a ação. Ficara tão nervoso e que avançara e arremessara a tina de água, tirando-a do alcance do empregado e do próprio rei, atraindo o olhar de centenas de pessoas. Ele fora afastado do cargo.

Poucas horas depois disso, William Marshal, importante cavaleiro do Jovem Rei decidira que aquela era a hora mais ideal para se importar publicamente com os rumores que circulavam entre um suposto caso envolvendo sua esposa e um campeão do Rei. Ele pedira para Henrique um combate contra este, para defender sua honra, mas o monarca, provavelmente muito ocupado com o clima péssimo que pairava sob sua família naquela ceia, mal deu-lhe atenção. Revoltado e ofendido, William deixou o banquete na metade, levando consigo toda sua comitiva. 

Uma coisa que não podemos mais duvidar, nessa altura do campeonato, é do talento de Henrique em cutucar ninho de vespas. Mais cedo, ele havia prometido a seu filho mais velho, o Jovem Rei, que este de fato herdaria a Inglaterra e a Bretanha. Por sua vez, Ricardo (o Coração de Leão), levaria consigo a Aquitânia de sua mãe, contanto que pagasse seus próprios encargos para o rei da França. Acontece que Henrique decidira incluir uma clausula no acordo durante o jantar, que previa o pagamento de taxas também para o próprio Jovem Rei. Ricardo não aceitara e se revoltara, deixando a corte de imediato enquanto jurava se preparar para futuras batalhas contra o pai.

Parece que não fora um Natal tão feliz assim.  

Bibliografia:
http://henrytheyoungking.blogspot.com.br/2012/12/henry-goes-christmasing.html
https://e-royalty.com/articles/christmas-with-the-plantagenets/


A relação entre Elizabeth e Jacquetta Woodville com a bruxaria.


Foram Jacquetta ou Elizabeth bruxas, ou, pelo menos, interessadas pela bruxaria? 

Gravura que ilustra a lenda de Melusina.
Muito tem sido falado, para começar, da ascendência mítica de Jacquetta com Mélusine, uma "mulher serpente" que era uma suposta ancestral da Casa de Luxemburgo. Há pouca evidência, no entanto, que Jacquetta teve um interesse especial na lenda de Mélusine, e nem que Elizabeth o fez (em 1474 em um festival em Coventry, foi apontada a descendência de Elizabeth com os Reis Magos, e não com Mélusine.) Jacquetta possuía uma cópia do romance ancestral da deusa/fada mítica, mas apenas como parte de uma coleção de tratados e histórias das cruzadas e da Terra Santa. Mélusine era, de fato, uma história do século XV muito popular, e muitas outras senhoras bem-nascidas, além Jacquetta o tinha. Assim como possuir os livros de Harry Potter não faz de nenhum leitor moderno um praticante de bruxaria, possuir o romance de Mélusine não faz de uma dama medieval uma bruxa. 

Além de sua ancestralidade, aqueles ansiosos para encontrar alegações de que o casamento de Elizabeth para Edward foi conseguido por meio de feitiçaria têm apontado a data do casamento dada pelos cronistas: o dia 01 de maio (aka dia do trabalho aqui no Brasil, pra te lembrar que nem todo mundo tem a sorte de casar com um rei) perdão pela brincadeira, que calha a ser um dia depois do Grande Sabbath das bruxas de Walpurgisnacht. Um autor sugeriu, em completa seriedade, que Edward IV chegou a Grafton uma noite antes do casamento e que participou do ritual, apesar da completa falta de provas de que tal rito foi realizado em Grafton em 30 de abril, e muito menos que Edward ou qualquer um dos Woodvilles participaram. Outros afirmavam que a Edward foi dada uma poção do amor pela rainha e sua mãe. Embora esse cenário não é tão improvável quanto o outro, ainda é bastante implausível. A menos que a poção tivesse uma ação excepcionalmente longa, teria certamente falhado em algum momento na vida Edward. Será que estamos realmente a acreditar que um homem de dezoito anos que lutou para conquistar seu trono, seria incapaz de se desvencilhar ou anular um casamento que não era da sua vontade, que tinha sido enganado ou induzido a fazer?   

Ambas praticando bruxaria para atrair Edward em "TWQ".
O fato é que não há simplesmente nenhuma evidência, além das afirmações não comprovadas de inimigos de Elizabeth e Jacquetta de que a rainha não usou nada além dos meios convencionais - beleza e uma personalidade vencedora - para atrair Edward em casamento. (Afinal, nada menos do que quatro damas "comuns" se casaram com neto de Edward,  Henrique VIII - Tudo sem o benefício de bruxaria ou feitiçaria. Sim, homens poderiam sentir vontade de se casar com mulheres de ranking inferior na corte). A própria "evidencia" de Thomas Wakes, que levou Jacquetta para um tribunal, envolviam apenas imagens, não Grandes Sabaths ou elixires de amor - e se desintegrara em face do poder recuperado de Edward IV, com sua sogra negando vigorosamente suas acusações. Em 1484, as próprias acusações contra mãe e filha feitas pelo Parlamento de Richard III não apresentavam nenhuma evidência para apoiar a alegação de que ambas haviam praticado feitiçaria no casamento real de Elizabeth. Nesta época, Jacquetta estava morta e não podia se defender, enquanto Elizabeth estava quase em posição de levantar-se contra Ricardo III, que havia executado seu irmão Anthony e seu filho Richard Grey e que tivera seus filhos reais em seu poder (se eles já não tivessem sido eliminados) . Logo, era extremamente vantajoso para o novo rei apoiar tal ideia, uma vez que a legitimidade dos filhos de Elizabeth poderiam comprometer seu direito ao trono. Quando Henrique VII chegou ao poder e ordenou a destruição do ato do Parlamento que invalidava a anulação do casamento de Edward com sua rainha, já não havia qualquer necessidade de maiores esforços para se defender contra as acusações de bruxaria, afinal, sua filha, independente do que dissessem, já seria a rainha da Inglaterra.  

Não é inconcebível, portanto, a certeza que Jacquetta, Elizabeth ou seus familiares tentaram empregar meios sobrenaturais para atrair Edward para o casamento ou que utilizaram de alguma outra forma as imagens que estavam supostamente (e ironicamente descobertas em um momento politicamente conveniente) na posse de Lady Rivers. Também vale lembrar que há apenas alguns anos antes, Eleanor, Duquesa de Gloucester, a mulher do tio de Henrique VI,  Humphrey, Duque de Gloucester, havia admitido o emprego de Margery Jourdemayne, conhecida como "a bruxa de olhos ', para ajudá-la a ter um filho de Humphrey. O fato de que uma senhora de alto escalão, como a Duquesa de Gloucester, cujo marido era o próximo na linha de sucessão ao trono, nesse momento, investia em pessoas como Margery mostram que pessoas de alto status nem sempre eram sinônimo de inocência. Mas devido ao fato de as acusações contra Jacquetta e Elizabeth vierem exclusivamente de seus inimigos em tempos de turbulência, devemos pelo menos considerar as acusações contra elas com o maior ceticismo.


Majoritariamente traduzido de: http://www.theanneboleynfiles.com/jacquetta-woodville-and-witchcraft/